segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Diversidade e inclusão escolar

Estava lendo uma edição antiga de uma revista que gosto muito, Mente e Cérebro, e me deparei com um artigo muito interessante. achei pertinente digitá-lo para que mais pessoas possam ter acesso a tal.





Lidar com as diferenças na sala de aula é um desafio não apenas para professores, mas também para psicólogos e outros profissionais que acompanham crianças.
Começa o ano letivo. Ao entrar na sala de aula, o professor depara com 30, 35 ou 40 rostos. Às vezes não se detém em nenhum deles e já começa a colocar o planejamento em prático: é preciso cumprir o programa. Mas é aí que algo acontece: há alunos que simplesmente não aprendem.
                Coloca-se então o desafio não apenas para educadores, mas também para educadores, mas também para pais, psicopedagogos, psicólogos e outros profissionais das áreas da saúde e da educação. Haveria em desencontro? Falta de preparo por parte do docente? Ou as crianças não tiveram “uma base boa” do ano anterior? Hipóteses são cogitadas: alunos que apresentaram dificuldades certamente têm algum problema! A partir desse momento, o olhar do professos para os alunos que o decepcionaram já está contaminado pelas idéias de fracasso e há o risco de que ele, ainda que involuntariamente, atribua rótulos a essas crianças – cada qual com uma história, uma trajetória escolar distinta, uma maneira singular de perceber o mundo, de se relacionar e de aprender.
                Os professores do ensino fundamental, médio ou mesmo da universidade consideram a singularidade ao preparar suas aulas? Os cursos de graduação de fatopreparam profissionais para a diversidade e para se preocuparem em conhecer as crianças, adolescentes ou adultos que chegam até as salas de aula? Incentivam o palnejamento de atividades variadas, que podem proporcionar aos estudantes possibilidade de obter sucesso, descobrir e mostrar as habilidades, desafiango-os a buscar novos conhecimento?
                Se a ação educativa deve levar em conta todos esses cuidados, será possível incluir cada um dos educandos na rotina escola, garantindo que se sintam seguros para mostrar o que sabem e correr em busca do que lhes falta. A inclusão à qual me refiro parte daí, do respeito que deve pautar as relações, seja com alunos considerados “normais”, com os que pertençam a outras culturas ou que tenham alguma necessidade educacional especial.
                Mas o que é inclusão? Como praticá-la em salas de aulas lotadas com poucos recursos, alunos indisciplinados e tantas outras dificuldades? Como promover valores quando, por exemplo, a mídia eleva à categoria de heróis e celebridades aqueles que trapaceiam e mentem, seja nos reality shows ou no cenário político? De fato, fazemos parte de um sistema educacional cheio de falhas e que, não raro, dificulta o próprio ato de educar; incluir o outro, porém, depende basicamente da vontade e da disponibilidade para conhecer e se comprometer com o desenvolvimento desse outro – seja ele uma criança sem deficiência, um aluno com necessidades especiais, um “adolescente problema” ou um adulto que ainda não foi alfabetizado. É fundamental que aquele que, de alguma maneira, participa do processo de educar tenha disponibilidade psíquica para o acolhimento. Segundo o pesquisador González-Rey, a subjetividade caracteriza-se por “formas de organização subjetiva dos indivíduos concretos. Nela aparece constituída a história única de cada um dos indivíduos, a qual, dentro de uma cultura, se constitui em suas relações pessoais”. Trata-se de um processo dialético: quando a ação do sujeito modifica o meio social, é significada por ele e, a partir dessa significação, o próprio sujeito pode alterar o sentido anterior relacionado àquela ação.
                A subjetividade é uma configuração flexível e se dá ao longo do tempo, constitui-se por meio da ação do sujeito, das relações interpessoais, do contexto social, cultural e do momento histórico em que o sujeito está inserido. As relações estabelecidas na escola entre professores e estudantes e entre o próprios alunas são relações entre subjetividades, constituídas por conceitos e pré-conceitos, por idéias sobre o que é aprender e se desenvolver, pelas idéias que os educandos têm de escola, de ensino, de seu papel na instituição, do sentido que os professores atribuem à prática pedagógica, do momento histórico, político, econômico e social.
                Constituímos uma sociedade que exclui o que é diferente, o que foge à regra, o que não dá lucro. A escola recria e mantém as relações de poder e submissão que caracterizam a sociedade, por isso, também exclui através da busca da padronização privilegiando o resultado e não o processo.
                Alunos que “não conseguem acompanhar” a turma são excluídos por meio de notas, dos comentários feitos a respeito de seu desempenho e dos rótulos aos quais são submetidos. Ou por meio de gestos e olhares que expressam a desaprovação. Como reverter esse quadro? Com a obrigatoriedade determinada por lei de as escolar receberem todos os alunos, sem distinção, se faz mais do que nunca necessário refletir sobre práticas pedagógicas. Não é mais tolerável que se aja como se todos os sujeitos fossem iguais e aprendessem do mesmo jeito, em um mesmo ritmo e por meio das mesmas atividades.
                Em meio a esse turbilhão – chamado inclusão – cabe à escola promover a inserção sistemática dos alunos na cultura e torná-los aptos a serem agentes ativos e participativos.
                E onde a leitura e a produção de textos entram nesse processo? Entram desde o início da vida acadêmica. Ou, pelo menos, deveria ser assim. Escrever é uma forma de expressar o pensamento, os sentimentos e de se comunicar. O hábito de leitura permite, além do desenvolvimento cognitivo, apropriações afetivas e desenvolvimento da certeza de que se pertence a uma cultura e a um tempo. Por meio dessas práticas é possível mobilizar sentimentos, fazer despertar variados interesses, motivação, propicar a interação entre pessoas, deixar fluir a criativiadade.
                 O registro escrito, ao londo da nossa história, reflete a condião humana, desejos, angústias, incertezas, conflitos, alegrias, sofrimento, conquistas e evolução. Quando se trabalha com a diversidade textual, é dada aos alunos a oportunidade de desenvolver habilidades, representações e competências, facilitando a interação social, melhorando sua auto-estima e, por conseguinte, o desempenho acadêmico.
                Um conto não é mais importante do que uma história em quadrinhos ou uma notícia de jornal. São apenas diferentes, podendo se de boa qualidade ou não. Privilegiar o trabalho com um tipo específico de texto é excluia a riqueza que as mais diversas modalidades de produções escritas nos oferecem e implica excluis alunos que se identificam com outros tipos de leitura.
                A aceitação da diversidade textual em sala de aula possibilita a inclusão dos diversos estilos e ritmos de aprendizagem. A busca da competência, do desenvolvimento das habilidades individuais, da sensibilidade e do trabalho em conjunto são caminhos para lidae com a singularidade – e talvez nos torne mais sensíveis, solidários e preparados para enfrentar os desafios de um mundo em constante transformação.


Ádria Assunção Santos de Paula é Psicóloga educacional, mestre em psicologia do desenvolvimento.

Retirado da Revista "Mente e Cérebro", edição nº 182 de março de 2008, páginas 24 e 25

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